NÃO É UM MUSEU
Por que não? O principal motivo é que, por definição, museus são instituições permanentes, e não há garantia de permanência nessa experiencia que propomos. Além disso, a existência dos museus se vincula à participação de comunidades. Até o momento não temos uma comunidade mobilizada de modo a suprir essa condição. Entretanto, nosso desejo é que esta experiência ajude a mobilizar pessoas da comunidade software livre para discutir e representar nossa memória em uma organização suficientemente sustentável para afirmar a própria permanência.
Veja o atual conceito de museu no site do ICOM Brasil.
Se não é museu, é o quê? É uma máquina, sendo entendendo o termo conforme uma de suas acepções mais antigas: meio engenhoso para conseguir um fim. No caso a finalidade é estudar processos de musealização de objetos digitais, o que parece ser suficiente para justificar o estudo de qualquer experiência museológica realizada no ciberespaço – desde pesquisas sobre ontologia de objetos digitais e definição de estratégias para preservá-los, até a realização de ações de comunicação e educação voltadas para o público. É uma máquina que simula todas as potencialidades de um museu digital, para fins de estudo.

É um museu virtual? Sim, pode ser chamado de museu virtual. A proposta de máquina teórica se encontra justamente em um campo de existência problemático, tal como Pierre Lévy observa:
“A atualização ia de um problema a uma solução. A virtualização passa de uma solução dada a um (outro) problema. Ela transforma a atualidade inicial em caso particular de uma problemática mais geral, sobre a qual passa a ser colocada a ênfase ontológica. Com isso, a virtualização fluidifica as distinções instituídas, aumenta os graus de liberdade, cria um vazio motor. Se a virtualização fosse apenas a passagem de uma realidade a um conjunto de possíveis, seria desrealizante. Mas ela implica a mesma quantidade de irreversibilidade em seus efeitos, de indeterminação em seu processo e de invenção em seu esforço quanto à atualização.A virtualização é um dos principais vetores da criação de realidade.”
LÉVY, Pierre. O que é virtual? São Paulo: Ed. 34, 2011.
Serve para quê? A maior parte da existência da “máquina teórica museu” ocorre em modo virtual, isto é, como problema para os quais buscaremos soluções com altos graus de liberdade. Para um museu, altos graus de liberdade significa instabilidade. Isso tende a ser nocivo, porque os compromissos que museus assumem com a sociedade são a longo prazo, e eles dependem de estruturas estáveis para cumpri-los. A máquina museu serve para promover experiências e verificar seus resultados. Ela permite descrever a estrutura do museu como uma sequência lógica e fazer ajustes nos termos desta sequência.
Estabilidade é um objetivo? Sim, mas no caso da máquina o processo de realização de experiências é o que importa. É possível que, ao longo do tempo, a máquina alcance um alto grau de estabilidade. Caso isso aconteça será possível, por deliberação da comunidade participante, alterar sua condição de máquina para a de museu. Os esforços da proposta do cibermuseu.org serão direcionados para a estabilidade, mas sem pressa para alcançá-la.
É um museu de mentira? Não é um museu, só funciona como um. A máquina abre a possibilidade de investigar efeitos de decisões em ambiente controlado. Ao funcionar como se fosse um museu, é necessário que a máquina seja instruída para simular todos os compromissos éticos que os museus assumem com a veracidade das informações que produzem e divulgam; com o reconhecimento da diversidade de perspectivas sobre a realidade; e com a transparência em relação às estratégias de preservação que escolhem seguir.
Na próxima página vamos estabelecer as diretrizes para o funcionamento da máquina cibermuseu.