Apresentação

Museu das Culturas Digitais

Como a ideia surgiu:

(esse texto contém um breve histórico da proposta. Se você quiser ir direto a uma explicação mais objetiva, clique em: “Qual é a ideia?”)

Meu nome é Hugo Guarilha, e atualmente trabalho como técnico administrativo na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), onde ocupo o cargo de produtor cultural. Sou usuário de software livre desde 2010, e a ideia de criar um museu das culturas digitais me ocorreu quando cursava o programa de doutorado em Museologia e Patrimônio na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Naquela época eu estudava o pensamento de um filósofo chamado Karl-Otto Apel, que propunha uma reflexão sobre os jogos de linguagem não somente abordando seu aspecto lógico, mas também ético.

O que me atraía no pensamento de Apel era, como ele mesmo chamava, sua ilusão operativa. Ele tinha convicção na existência de uma orientação normativa capaz de conferir validade ao conhecimento por meio da resposta à questão sobre as condições de possibilidade e validade das convenções. Apel encontrou esta orientação normativa na estrutura dos jogos de linguagem praticados por comunidades de comunicação – grupos de interlocutores sobre um assunto, pessoas que dominam a mesma linguagem e se comunicam entre si.

O mais instigante para mim era observar que na busca de Apel estava implícito o desejo de estabelecer um processo permanente de crítica da linguagem, de modo a livrá-la das relações de dominação que tendem a se imiscuir na prática real da comunicação. Naquela época eu acreditava que para, se não alcançar, ao menos nos aproximarmos desse jogo de linguagem ideal, era necessário que os participantes tivessem consciência da estrutura do jogo, de modo que parte de sua competência para a comunicação estaria na competência para produzir a crítica do jogo desde suas respectivas posições.

Como estudante de museologia, eu acreditava também que os museus eram espaços privilegiados para viabilizar esse tipo de comunidade de comunicação. Afinal de contas, a matéria prima por excelência do trabalho em museus são signos de caráter simbólicos. Museus produzem, divulgam, criticam, revisam intensamente as convenções sociais. Além disso, eu percebia com clareza que a comunidade vinculada ao software livre tende a se estruturar como uma comunidade de comunicação muito próxima da perspectiva apeliana. Surgiu então o desejo de propor a criação de um “Museu Digital da Experiência Livre”, algo que teria como núcleo central a experiência do software livre, mas que desenvolveria o tema da liberdade em outros segmentos.

Em 2020 tive a oportunidade de colaborar para a produção de um evento de arte e cultura na UFOP, a Mostra Multi. Dividi com o meu amigo, o Prof. André Duarte (DEETE/UFOP), uma curadoria de Culturas Digitais. Em nossas conversas, que incluíram as estudantes bolsistas Marina Lima e Fernanda Bernardes, ficou clara a pertinência de um esforço para o debate das culturas digitais em sentido mais amplo. Esse esforço, incorporado à ideia do museu digital, possibilitaria a apresentação dos contextos das tecnologias digitais para grandes públicos, sobretudo escolares, de modo a aumentar a quantidade de interlocutores e estimular uma reflexão crítica sobre a área. Então a ideia do “Museu Digital da Experiência Livre” se transformou em “Cibermuseu”.

Depois disso eu fiquei responsável por produzir um conteúdo inicial que servisse de referência para tentarmos mobilizar um grupo para o desenvolvimento deste projeto. Só consegui fazer isso agora, entre novembro de 2021 e janeiro de 2022, graças a uma licença de três meses para capacitação.

Qual é a ideia?

Neste segmento apresentamos a proposta do Cibermuseu em linhas gerais. Identificamos duas linhas fundamentais que orientam esse esforço: 1) reunir e preservar registros da memória de comunidades articuladas por meio das tecnologias digitais; 2) criar discursos e disponibilizá-los para grupos sociais que não participam de debates e processos de desenvolvimento de tecnologias.

Exemplo de gif “Under Construction”, frequentemente utilizado em páginas web na década de 1990.
Fonte: textfiles.com
Sons de um modem dial up ao realizar conexão com um servidor de internet local por meio de uma linha telefônica.
Fonte: Wikipedia
Ada Lovelace (1815-1852) – Diagrama para a realização de cálculos numéricos na máquina analítica de Babbage. Estudo publicado em “Scientific Memoirs” v.3 (1843).
Fonte: Wikimedia Commons.

Por que um museu?

Neste ponto tentamos defender a ideia de que um museu das culturas digitais pode ser um elemento importante para estimular a reflexão crítica sobre a produção e uso de tecnologias digitais. Procuramos apresentar algumas das preocupações próprias do campo da museologia, assim como algumas de suas potencialidades.

Saiba mais sobre os objetivos e a justificativa do projeto.