Comunicação

Já dissemos que a linguagem privilegiada dos museus é a linguagem expositiva. Porém, é importante ter em mente que a comunicação museológica abarca todo tipo de troca de informações com os públicos externos, sendo eles visitantes de vários perfis diferentes, grupos sociais representados no acervo, organizações do setor privado e governametnal, pesquisadores e pesquisadoras, outras instituições museológicas etc. É importante, portanto, que o Cibermuseu defina políticas e canais para efetivar a comunicação com o ambiente externo.

Embora as três áreas museográficas de que tratamos (documentação, conservação e comunicação) sejam indissociáveis e dependam de uma relação de comunicação íntima, não trataremos da comunicação interna neste tópico. Isso será visto no item “organização” no menu principal.

Exposições:

É o momento em que o trabalho realizado no museu retorna à sociedade na forma de discurso organizado sobre determinada temática. Esse discurso tem a característica de ser muito mais aberto do que uma narrativa exposta em livros ou filmes. Queremos dizer com isso que, embora as curadorias de modo geral definam percursos com propostas de encadeamento semântico entre os objetos apresentados, a linguagem expositiva se desenvolveu ao longo do tempo de modo a estimular a autonomia do sujeito visitante no processo de elaboração de significados.

O sentido do bem cultural apresentado se completa na medida em que a pessoa que frequenta a exposição aceita o convite para experimentar o objeto de modo a apropriar-se dele, de modo a trazê-lo para seu universo individual de experiência e a construir um significado. Não há possibilidade de uma compreensão correta ou incorreta, mais ou menos exata, do discurso exposto. A questão fundamental é como a exposição afeta o público e o que as pessoas podem elaborar em termos de reflexão crítica sobre a temática apresentada.

Responsabilizar-se por uma curadoria implica em criar meios para envolver o público em uma experiência sobre determinada temática. Suponhamos um tema passível de ser trabalhado no âmbito do Cibermuseu: a soberania digital, por exemplo. A equipe de curadoria certamente seria composta por especialistas em cada uma das áreas que seriam contempladas na exposição como um todo. Por exemplo, especialistas na área de educação se responsabilizariam por observar a temática da soberania digital a partir desse foco de interesse, enquanto especialistas em políticas públicas se preocupariam em abordar o tema sob outro ângulo específico.

Definidas as áreas contempladas, as curadorias teriam duas missões que se realizariam concomitantemente: 1) selecionar, dentro de um universo de possibilidades dado, objetos capazes de representar a temática; 2) criar mecanismos para apresentá-los de modo a instigar o público a um engajamento na experiência dos objetos, tecendo relações entre eles. O objetivo principal de uma exposição, assim nos parece, é oferecer conteúdo para enriquecer o campo de experiência das pessoas visitantes, e deste modo estimulá-las a uma reflexão crítica sobre a temática.

Para uma experiência de bons trabalhos em formato digital, indicamos a frequentação das exposições do Museu da Pessoa. Não há uma receita para a realização de exposições em formato digital. É possível perceber nas muitas exposições do Museu da Pessoa que cada temática enseja uma forma de apresentação diferente, de modo que o conteúdo se entrelaça à tecnologia utilizada de formas muito diferentes e criativas.

Acreditamos que um museu das culturas digitais terá condições de trabalhar recursos expositivos de forma a envolver os diversos públicos na realidade dos grupos sociais que atuam nos contextos tecnológicos. Nossa proposta é que o Cibermuseu produza uma exposição de grande impacto por ano ou a cada dois anos. Ao longo deste período de produção podem ser montadas pequenas exposições abordando temas mais restritos. Tais exposições vão propiciar a experimentação de tecnologias, formas de apresentação e de interação com o público.

Educação

Muitos museus contam com setores de educação para o planejamento e execução de estratégias de interação mais próxima com públicos específicos. Desta forma é possível ampliar a densidade de debates sobre temas pertinentes ao museu; estimular a formação de público; colaborar em processos de educação não formal; criar canais diretos de comunicação com as comunidades, suprir algumas demandas apresentadas e conhecer melhor as perspectivas de visitantes sobre o trabalho realizado pelo museu.

Os setores educativos dos museus cumprem funções muito estratégicas no relacionamento com seus públicos, de modo a colaborar para o cumprimento da função social dos museus. Dependendo das demandas é possível oferecer cursos livres, palestras, rodas de conversa e seminários; atividades orientadas para públicos específicos como crianças ou idosos. Podem ainda estabelecer programas de visitas guiadas a exposições e/ou reservas técnicas; promover encontros, espetáculos, ações de lazer; criar material pedagógico para ser trabalhado em escolas e oferecer formação para docentes de vários níveis de ensino; estabelecer programas para aumentar a acessibilidade de pessoas com deficiência etc. A possibilidade de realização desse tipo de trabalho deve estar prevista no plano museológico da instituição.

Ações educativas podem ser catalizadas por exposições ou podem estar diretamente vinculadas à missão e aos objetivos do museu. Assim é possível que um programa perene de palestras possa se dedicar à discussão de temas trabalhados em exposições, por exemplo, de modo a gerar conteúdo e oferecer ao público ferramentas para uma fruição mais densa da exposição.

Outras formas de mediação

Existem muitas outras possibilidades de comunicação museológica, como por exemplo a publicação de revistas (científicas ou não) pertinentes ao tema do museu (bem como podcasts e vídeos); disponibilização de peças de acervo no site em conjunto com algumas informações de suas fichas de documentação; participação em eventos externos ou colaboração em reportagens e outras matérias jornalísticas; presença em mídias sociais etc.

O fato é que no cumprimento de suas funções sociais os museus precisam definir políticas para alcançar a maior quantidade de público possível, almejando sempre a inclusão de pessoas de todos os segmentos sociais, de todas as faixas etárias e de pessoas com deficiência. Isso requer uma postura proativa, no sentido de que é preciso produzir meios para mediar a interação desses públicos diversos com o patrimônio cultural preservado pelo museu, e desta forma fazendo com que sua temática tenha maior capilaridade na sociedade. O Cibermuseu pode ser um meio para que uma quantidade significativa de pessoas se relacione com tecnologias digitais a partir de uma perspectiva crítica, e as instâncias de mediação são fundamentais para o cumprimento desta missão.

Organização

Na sequência, acesse o segmento relativo à proposta de organização do Cibermuseu.