Por que um museu?

Uma das características mais extraordinárias dos museus é o seu potencial para apresentar temas complexos a diferentes perfis de público. Isso acontece porque a comunicação por exposições apela diretamente aos campos de experiência de vida de visitantes. As pessoas são levadas a investigar os objetos expostos e a tecer relações entre eles. Elas se engajam no processo de construção de sentidos ao trazer os objetos para seus respectivos universos de entendimento.

Museus são instituições fortemente vinculadas às relações de aprendizagem. Constituem lugares privilegiados para que comunidades escolares e públicos leigos possam ter acesso e frequentar os trabalhos e pesquisas realizadas por especialistas reconhecidos em suas áreas. Proporcionar relações de aprendizagem é uma função muito importante que os museus desempenham em nossa sociedade.

Objetivos:

A vocação e o compromisso do Cibermuseu é favorecer uma maior apropriação de diversos segmentos da sociedade em relação ao campo das tecnologias digitais. Tratamos de apropriação em sentido amplo, considerando os contextos técnico-científicos, políticos e sociais das tecnologias. Este objetivo será alcançado através de um trabalho museológico, definindo estratégias para a preservação e divulgação de bens culturais capazes de representar relações sociais produzidas nos processos de desenvolvimento e uso de tecnologias digitais.

Assumir o ponto de vista da museologia para a preservação das memórias relacionadas às culturas digitais implica em trazer o debate sobre patrimônio cultural para o cenário de desenvolvimento tecnológico. Subjaz aqui a ideia de que certos objetos digitais (constituídos por códigos) funcionam (ou podem funcionar) como referências capazes de representar a diversidade dos grupos sociais que interagem nesse campo. Acreditamos que esse processo de representação é relevante para uma melhor compreensão das organizações sociais em nosso tempo, facilitando a análise e colaborando para maior participação social nos processos de decisão relacionados a este campo.

A ideia é representar recortes das realidades vividas nos contextos tecnológicos por meio de algumas referências culturais selecionadas e processadas pelo conhecimento desenvolvido no campo de conhecimento da museologia. Esse esforço traz para a sociedade um ganho: a possibilidade de observar a imagem destas realidades à distância, ou seja, fora do fluxo de produção e uso no qual estamos imersos. Isso amplia o potencial para a elaboração crítica e para a realização de correções e ajustes no que tange aos rumos que desejamos dar para uma relação saudável e de longo prazo entre tecnologia e sociedade.

A partir dessas duas premissas é possível perceber com mais clareza a necessidade de adoção de uma estratégia museológica dedicada a esse segmento cultural, contemplando: 1) a forma de reunião (seleção) de acervo que será preservado; 2) realização de pesquisa visando a criação e execução de metodologias para 2.1) documentação, a fim de reunir de forma sistemática um conjunto consistente de informações sobre os bens culturais que compõem o acervo e 2.2) conservação, definindo rotinas para a manutenção da integridade dos bens culturais ao longo do tempo; 3) promoção de ações de comunicação, de modo a oferecer à sociedade meios para frequentar as culturas digitais através das referências selecionadas e das informações documentadas. A linguagem privilegiada da comunicação museológica é a exposição, mas as ações de comunicação são muito diversas, envolvendo áreas como mediação e educação em museus.

Justificativa:

A definição de museu atualmente vigente no Conselho Internacional de Museus (ICOM/UNESCO) é:

“O museu é uma instituição permanente, sem fins lucrativos, a
serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, aberta ao público, que adquire, conserva, estuda, expõe e transmite o patrimônio material e imaterial da humanidade e do seu meio, com fins de estudo, educação e deleite.”

Estatuto do Conselho Internacional de Museus (22ª Assembleia Geral, Áustria, 2007)

Mesmo criados por grupos sociais específicos, inevitavelmente vinculados a programas ideológicos determinados, o fato de estarem compromissados com o desenvolvimento das sociedades garante aos museus uma situação de alta credibilidade junto a seus públicos. Isso não quer dizer que eles sejam portadores de verdades. Quando bem sucedidos, os museus conseguem apresentar o estado atual da arte dos debates acerca dos assuntos que lhes são pertinentes.

Ao selecionar, preservar e promover o acesso a determinados bens culturais representativos de segmentos da sociedade, essas instituições criam oportunidades para o encontro de pontos de vista diversos. O objeto musealizado se torna uma referência para onde convergem olhares de grupos sociais diferentes. Na medida em que tais grupos externalizam seus pontos de vista, observamos o surgimento de um debate que ultrapassa o objeto em direção à reflexão sobre a própria sociedade. Isso implica em desvelar discursos e lugares de fala implícitos às relações de poder na sociedade, fomentando a negociação de significados e construção de identidades.

Desejamos argumentar aqui quanto à necessidade de aplicar essa abordagem ao segmento das culturas digitais. Observamos nas últimas décadas um aumento vertiginoso do uso de tecnologias digitais tanto nas relações de trabalho como nas relações afetivas e no lazer. É inegável o ganho que o desenvolvimento tecnológico trouxe para a civilização, tanto quanto é inegável o aumento do grau de dependência diante das soluções eletrônicas. A maioria absoluta da população mundial é usuária de hardwares e softwares na vida cotidiana, porém pouquíssimas pessoas compreendem a lógica de funcionamento dessas ferramentas ou tem algum tipo de controle sobre suas estruturas mais profundas.

A rápida substituição de tecnologias e as inúmeras funcionalidades dos equipamentos e programas utilizados mantém essa grande massa de usuários nas camadas mais superficiais das estruturas tecnológicas. A vertigem provocada por esse terreno instável camufla as relações de poder, submetendo nações inteiras aos interesses de conjuntos de corporações privadas. É claro que há uma reflexão crítica elaborada por grupos engajados na resistência a essas formas de dominação, e existem mesmo modelos de relacionamento mais justos e conscientes com as tecnologias. Porém, o alcance desses grupos é limitado.

Nesse sentido o Cibermuseu pode contribuir para combater a alienação dessa grande parcela da população. Ao amplificar os discursos de resistência às forças de dominação e controle da sociedade, o museu estará colaborando para envolver mais interlocutores no debate sobre as culturas digitais. Desta forma mais pessoas poderão participar dos processos políticos de decisão, posicionando-se em relação às ameaças e às potencialidades do mundo em que vivemos.

Museografia

No segmento “Museografia” você terá acesso a propostas mais pragmáticas e técnicas sobre a criação do Cibermuseu. Trataremos sobre política de aquisição de acervo, estruturas para a documentação, conservação e comunicação museológica.