O objeto

O desafio que propomos é a musealização do Kurumin 7.0, uma distribuição de sistema operacional GNU/Linux produzida no Brasil a partir de 2003, cujo principal desenvolvedor foi Carlos E. Morimoto, responsável também pelo site Guia do Hardware. Embora seja formado por uma enorme quantidade de programas, existe unidade suficiente na estrutura de um sistema operacional para que possamos identificá-lo como um objeto passível de musealização.

Um dos elementos em jogo no reconhecimento da musealidade de um bem cultural é sua potencialidade para representar os vários contextos de sua existência. Nesse caso, o Kurumin é um bem digital de valor histórico que guarda potencial para representar parte da memória de grupos sociais reunidos nos primeiros anos deste milênio tendo como referência o software livre.

A expansão da comunidade software livre naquele momento ocorreu devido à alta confiabilidade dos softwares criados nos contextos de produção de tecnologias livres. Por outro lado, se deveu também ao fato dos sistemas operacionais livres terem alcançado um estágio de desenvolvimento que permitia sua utilização por usuários comuns, curiosos, mas não necessariamente conhecedores de linguagens de programação. O fato é que a quantidade de usuários de software livre cresceu em volume, e este grupo fortaleceu um contraponto crítico ao modelo de desenvolvimento tecnológico proprietário.

O projeto Kurumin foi desenvolvido entre os anos de 2003 e 2009. O Kurumin 7.0 foi lançado em 2007, e é a última versão de responsabilidade de Morimoto. Houve depois um outro lançamento, o Kurumin NG, desenvolvido por Leandro Santos. Essa proposta, entretanto, não chegou a amadurecer. Escolhemos o Kurumin 7.0 como nosso objeto de pesquisa museológica porque é a edição que conclui uma fase, embora a pesquisa sobre o contexto histórico contemple todas as edições do projeto.

O fato do Kurumin rodar diretamente por um live cd animou muitas pessoas a conhecerem o universo do software livre. Não era necessário formatar o computador e nem colocar os dados em risco. O Kurumin permitia dar uma olhadinha, fazer um teste, experimentar um conjunto de softwares que não só funcionavam muito bem, mas que são muito bem documentados no sentido de oferecer informações sobre o funcionamento do sistema como um todo e de suas partes constituintes.

A atividade de Carlos Eduardo Morimoto no Guia do Hardware já partia de uma abordagem de compartilhamento de conhecimento. O GDH era um site especializado, mas cujos artigos eram escritos em linguagem simples e ensinavam a forma como a tecnologia funcionava, ao invés de apresentar somente uma solução rápida para o uso. O Kurumin seguiu esta mesma linha, e acabou funcionando como uma introdução bastante didática aos contextos do software livre.

Primeiro anúncio do Kurumin, já com a logomarca com o K estilizado e a pessoa indígena com a flecha. Publicado no Guia do Hardware, em 14 de janeiro de 2003

A musalização do Kurumin 7.0 se justifica por duas qualidades principais: 1) facilidade de uso de uma distribuição GNU/Linux por público não especialista; 2) estabelecimento

Além desses dois, há um terceiro valor que sobressai a partir de um olhar em retrospectiva a partir de 2025. Abrir o live cd do Kurumin 7.0 é encontrar-se com um ciberespaço diferente, com muitas possibilidades de caminhos promissores que foram interrompidos em função de um cercamento promovido pelas big techs.

havia o dispositivo dos fóruns de discussão, onde pessoas da comunidade se ajudavam mutuamente.

Neste momento de reunião de informações que justifiquem a musealização do Kurumin pela máquina cibermuseu, identificamos até o momento 38 publicações externas ao sistema operacional, como notícias, manuais, apostilas, artigos críticos, artigos de memória, tutoriais e notas de lançamento. Iniciamos também a pesquisa em históricos de fóruns de discussão online, mas ainda não conseguimos sistematizar esse conteúdo devido ao grande volume. Importa, entretanto, que grande parte dos relatos corrobora

Duas setas apontando para a direita em sequência. As setas são constituídas por duas linhas cada, formando um ângulo reto cujo vértice aponta para a direita.